As Propriedades Viciantes do Trigo

Compulsão. Sintomas de abstinência. Delírio. Alucinações. Não estou descrevendo doenças mentais nem uma cena de um filme de terror”. Estou falando As Propriedades Viciantes do Trigo esse alimento que você leva para sua cozinha, compartilha com os amigos e mergulha no seu café.

Vamos explorar por que o trigo, pelos seus intrigantes efeitos sobre o cérebro – efeitos que ele compartilha com drogas opiáceas – é único entre os alimentos. Tais efeitos explicam por que algumas pessoas enfrentam uma dificuldade incrível para eliminar esse cereal de sua dieta.

Não se trata apenas de falta de determinação ou de conveniência, nem do fato de ser difícil romper um hábito arraigado. Trata-se de cortar relações com algo que tem um domínio sobre sua psique e suas emoções, que não é diferente do domínio que a heroína exerce sobre o dependente desesperado.

Embora você conscientemente consuma café e álcool para obter efeitos mentais específicos, o trigo é algo que você consome para se “nutrir”, não para experimentar um “barato”. Como as pessoas que tomaram o refrigerante na reunião evangelizadora de Jim Jones, você talvez não tenha consciência de que esse alimento, aprovado por todos os órgãos “oficiais”, está mexendo com sua cabeça.

É muito comum pessoas que eliminaram o trigo da dieta relatarem melhora no ânimo, humor mais regular, maior capacidade de concentração e sono mais profundo, em questão de dias ou semanas desde a última mordida numa rosca ou a última garfada de lasanha.

Entretanto, é difícil quantificar essas experiências subjetivas que não deixam “marcas” em nosso cérebro. Essas experiências também estão sujeitas ao efeito placebo – isto é, as pessoas simplesmente acham que estão se sentindo melhor.

Entretanto, fico impressionado com a constância com que elas ocorrem e com o fato de a maioria das pessoas as vivenciar, uma vez que se abrandem a confusão mental e a fadiga, efeitos iniciais da síndrome de abstinência. Eu mesmo experimentei esses efeitos, e também os testemunhei em milhares de pessoas.

É fácil subestimar a influência psicológica do trigo. Até que ponto um inocente bolinho de farelo pode ser perigoso, afinal?

O vicio do pao

O trigo é o Haight-Ashbury dos alimentos, e não há nada que se equipare a ele em seu potencial para gerar efeitos totalmente singulares no cérebro e no resto do sistema nervoso. Não há dúvida: o trigo provoca dependência em algumas pessoas. E em algumas dessas pessoas a dependência se transforma em obsessão.

Alguns dependentes do trigo sabem muito bem que têm esse problema.

Essas pessoas se percebam como dependentes de algum alimento que tenha o trigo como ingrediente, por exemplo, massas ou pizza. Antes mesmo que eu lhes diga, elas já sabem que sua dependência alimentar preferida as deixa um pouco “eufóricas”. Ainda me arrepio quando uma dona de casa dedicada à família, convencional e bem vestida, confessa em desespero: “O pão é meu crack. Eu simplesmente não consigo largá-lo!”.

O trigo pode determinar a escolha do alimento, a quantidade de calorias consumidas, os horários de lanches e refeições. Ele pode influenciar o comportamento e o humor.

Pode até mesmo dominar os pensamentos. Muitos de meus pacientes, quando lhes apresento a sugestão de eliminar o trigo da dieta, relatam terem ficado obcecados com produtos de trigo, a ponto de, ao longo de semanas, pensar constantemente neles, falar sobre eles e salivar por causa deles. “Não consigo parar de pensar em pão. Eu sonho com pão!”, dizem-me eles, o que leva alguns a sucumbir a um frenesi de consumo de trigo e desistir da dieta apenas alguns dias depois de terem-na iniciado.

Há também, é claro, o outro lado da dependência. Quando as pessoas abandonam por si próprias os produtos que contêm trigo, 30% delas passam por algo que só pode ser chamado de síndrome de abstinência.

Eu pessoalmente já vi centenas de pessoas relatarem fadiga extrema, confusão mental, irritabilidade, incapacidade para cumprir suas funções no trabalho ou na escola e até mesmo depressão nos primeiros dias ou semanas após a eliminação do trigo.

É um círculo vicioso: basta a abstinência de uma substância, para que ocorram, de imediato, sintomas decididamente desagradáveis. Quando se volta a consumi-la, os sintomas desagradáveis desaparecem. Para mim, isso é muito parecido com dependência química e sintomas de abstinência.

Quem não experimentou esses efeitos acha que isso tudo é bobagem, que é um exagero acreditar que algo tão corriqueiro quanto o trigo possa afetar o sistema nervoso central, como fazem a nicotina ou o crack.

Existe uma razão cientificamente plausível tanto para os efeitos da dependência do trigo como para os da abstinência dele. O trigo não atua apenas sobre o cérebro normal; ele afeta também o vulnerável cérebro anormal, e as consequências disso ultrapassam a mera dependência e abstinência.

Estudar os efeitos do trigo sobre o cérebro anormal pode nos ensinar algo sobre por que motivo e de que maneira o trigo pode estar associado a esses fenômenos.

O Trigo e a Mente Esquizofrênica

As primeiras lições importantes acerca dos efeitos do trigo sobre o sistema nervoso central surgiram em estudos de seus efeitos em portadores de esquizofrenia.

Os esquizofrênicos levam uma vida difícil. Eles lutam para distinguir a realidade da fantasia interna, muitas vezes nutrindo delírios persecutórios, até mesmo acreditando que sua mente e seus atos são controlados por forças externas. (Basta lembrar do “Filho de Sam” David Berkowitz, o assassino em série da cidade de Nova York que atacava suas vítimas obedecendo as ordens de seu cachorro.

Felizmente, o comportamento violento não é comum em esquizofrênicos, mas esse exemplo ilustra quão profundo pode ser o problema.) Uma vez diagnosticada a esquizofrenia, há pouca esperança de que a pessoa venha a ter uma vida normal de trabalho, família e filhos. Uma vida de internações, medicamentos com terríveis efeitos colaterais e uma luta constante com sinistros demônios internos é o que aguarda o paciente.

Quais são, então, os efeitos do trigo na mente vulnerável do esquizofrênico?

O trabalho do psiquiatra F. Curtis Dohan, cujas observações se estenderam desde a Europa até a Nova Guiné, foi o primeiro a estabelecer formalmente uma relação entre os efeitos do trigo e o cérebro esquizofrênico.

O doutor Dohan enveredou por essa linha de investigação porque observou que, durante a Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres esquizofrênicos da Finlândia, da Noruega, da Suécia, do Canadá e dos Estados Unidos precisaram ser hospitalizados um menor número de vezes quando a falta de alimentos tornou o pão indisponível, e o número de hospitalizações só voltou a aumentar quando o consumo do trigo foi normalizado, com o fim da guerra.

A pesquisa realizada na Filadélfia com esquizofrênicos foi apoiada por psiquiatras da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, que chegaram a conclusões semelhantes. Desde então, houve relatos de remissão completa da doença, como o caso descrito por médicos da Universidade Duke de uma mulher esquizofrênica de 70 anos que, ao longo de 53 anos, sofreu de delírios, alucinações e tentativas de suicídio com objetos cortantes e produtos de limpeza, e experimentou alívio total da psicose e impulsos suicidas em oito dias de abstinência de trigo.

Embora pareça improvável que a exposição ao trigo tenha causado a esquizofrenia originalmente, observações do Dr. Dohan e de outros pesquisadores sugerem que o trigo esteja associado a um agravamento mensurável dos sintomas.

Outra condição mental vulnerável que pode ser afetada pelo trigo é o autismo. Crianças autistas têm dificuldade para socializar e se comunicar. A frequência desse tipo de transtorno aumentou nos últimos quarenta anos, passando de raro no meio do século XX para 1 em cada 150 crianças no século XXI.

Amostras iniciais pequenas mostraram melhora em comportamentos autistas com a remoção do glúten do trigo. No ensaio clínico mais abrangente até o momento, envolvendo 55 crianças autistas dinamarquesas, medidas formais mostraram melhora no comportamento autista com a eliminação do glúten (acompanhada da eliminação da caseína láctea).

Embora a questão ainda esteja em discussão, uma proporção substancial de crianças e adultos com Transtorno do Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) também pode responder à eliminação do trigo. No entanto, os resultados costumam ser confusos devido à sensibilidade a outros componentes da dieta, como açúcares, adoçantes artificiais, aditivos e laticínios.

É improvável que a exposição ao trigo seja a causa inicial do autismo ou do TDAH; mas, como no caso da esquizofrenia, o trigo parece estar associado ao agravamento dos sintomas característicos desses distúrbios.

Embora pessoas como nós, do conforto de nossa posição do século XXI de consentimento informado, possam se arrepiar com o tratamento de animais de laboratório dado a pacientes esquizofrênicos do Hospital de Administração de Veteranos, na Filadélfia, ainda assim o caso é um exemplo claro do efeito do trigo sobre o funcionamento mental.

Mas por que diabos a esquizofrenia, o autismo e o TDAH são exacerbados pelo trigo? O que há nesse cereal que piora a psicose e outros comportamentos anormais? Pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) buscaram respostas.

Assim que você consome trigo, a digestão libera compostos semelhantes à morfina, que se ligam aos receptores opiáceos do cérebro. Isso cria uma sensação de recompensa, uma leve euforia. Quando o efeito desses compostos é bloqueado, ou quando você não consome alimentos que os gerem, algumas pessoas podem experimentar sintomas de abstinência decididamente desagradáveis.

Em outras palavras, uma vez que a recompensa do trigo, na forma de euforia, é bloqueada, a ingestão de calorias diminui, pois o trigo não gera mais as sensações agradáveis que estimulam o consumo repetitivo. Essa estratégia está sendo desenvolvida pela indústria farmacêutica para a comercialização de uma droga para redução de peso, que contém naltrexona, um equivalente da naloxona para uso oral.

A droga bloqueia o sistema mesolímbico de recompensa, localizado nas profundezas do cérebro humano e responsável pela geração de sensações agradáveis ativadas pela heroína, morfina e outras substâncias. As sensações prazerosas podem ser substituídas por sensações de disforia ou insatisfação.

Assim, a naltrexona estará associada à bupropiona, um medicamento antidepressivo e auxiliar no tratamento para o abandono do hábito de fumar. Desde sintomas da síndrome de abstinência até alucinações psicóticas, o trigo participa de alguns fenômenos neurológicos peculiares.

Muita coisa para absorver mas saiba que estudos recentes tem identificado varios outros alimentos causadores de doenças relacionadas ao comportamento e vale a pena pelo menos voce testar excluir o consumo do gluten para verificar as modificações na sua vida.

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